Das
montanhas do sudeste mexicano
Subcomandante Insurgente Marcos
México,
fevereiro de 2003.
EXÉRCITO
ZAPATISTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL.
MÉXICO.
Fevereiro de 2003.
Para:
Pablo Gómez.
De: Subcomandante Insurgente Marcos.
Assim
você anda por aí “outra vez”. Não é porque aspira a alguma candidatura
no próximo processo eleitoral, não é mesmo? Aqui vão alguns comentários ao
seu texto.
1. Sobre a questão de que “se Marcos concordasse com o programa e a
plataforma legislativa do PRD em matéria indígena, isso quereria dizer que já
tem um amigo ainda que fosse só neste tema”. Não, meu querido Pablo, se
Marcos (ou qualquer um dos zapatistas) concordasse com o programa ou a
plataforma do PRD, já seria pré-candidato para um cargo eletivo e colocaria um
“anúncio” no rádio com a música de Roberto Carlos que diz “Eu quero ter
um milhão de amigos e assim mais forte poder cantar...”. No lugar disso, oh
pobres de nós!, estamos cantando “Não sou moedinha de ouro para cair bem a
todos...”
2. Nunca dissemos que somos a única organização de esquerda, nem que não
há partidos políticos nacionais de esquerda. Temos dito, e o repetimos, que o
PRD já não é um partido de esquerda. E, me perdoe, meu querido Pablo (já
fiquei muito musical), mas há partidos políticos que não tem registro.
3. Sobre sua qualificação de “tola” à gente honesta e coerente do
PRD, parece-se que assim você não vai conseguir muitos votos na disputa pelas
nomeações. Nós dissemos que a gente honesta e coerente do PRD está neste
partido porque pensa que não há outra coisa e que talvez se possa fazer algo
para mudá-lo (recomendo-lhe que leia a entrevista que PROCESO faz, em seu último
número – 1370 – a Salvador Nava Calvillo).
4. Acuso o recebimento da reprovação por falar em “instituto político”.
O que devo colocar, então? “Clube de amiguinhos”?
5. Sobre a guerra, recomendo que não dê ouvidos a Salinas e nem a
Zedillo. Na primeira parte dos enfrentamentos, em 1994, os combates foram até
depois do 12 de janeiro (quando Salinas decretou o cessar-fogo) porque os
federais queriam tomar posições melhores para o que viria a ser o futuro
cerco. Nossas tropas destruíram um blindado perto de San Miguel (próximo a
Ocosingo) no dia 16 de janeiro, e no dia 17 derrubamos um pequeno avião militar
a caminho de Toniná. Se você souber somar isso já dá 17 dias. Em 1995,
quando da traição de Zedillo, tivemos enfrentamentos que duraram 3 dias, na
altura de Nuevo Momón, próximo a Las Margaritas (onde caiu em combate o
tenente coronel Manterola, ainda que os generais tenham dito que foi executado
pelos próprios soldados) e nos arredores de Nueva Estrella, em Ocosingo (onde
caíram sete companheiros nossos). Em 1998, em junho, tivemos um choque com o exército
e polícia de Albores em San Juan de la Libertad, em Los Altos de Chiapas e
derrubamos um helicóptero. Assim, somando os dias, já são 21. Isso saiu nos
jornais (entre outros, no que você escreve agora), não nos boletins da presidência,
e a reportagem televisiva do combate em San Juan de la Libertad valeu ao repórter
Juan Sebastián Solis, da Televisa, prêmio nacional de jornalismo.
Sobre o fato de que o PRD não tem criticado o EZLN “porque não quer
dar armas aos inimigos dos zapatistas”, digo que sua generosidade me comove.
Felizmente, o “acuamento físico”, meu nunca bem ponderado Pablo, não é
acuamento mental.
Por último, digo-lhe que lemos seu artigo com prazer i-n-d-e-s-c-r-i-t-í-v-e-l.
É a primeira vez depois de muito tempo que alguém descreve defendendo o PRD
sem sequer ficar vermelho... porque você não está vermelho?... ou sim?
Valeu. Saúde e um chá para a coragem