República da Colômbia
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
Exército do Povo


Senhor:
Andrés Pastrana Arango
Presidente da República.

No dia de hoje recebi a carta aberta enviada pelo senhor Presidente da
República e assinada pelo senhor Camilo Gómez Alzate.

Ao ler a carta não encontro resposta a nenhuma das propostas contidas nos
últimos documentos enviados pelas FARC-Exército do Povo, para salvar o
processo de paz, relacionadas com temas como o compromisso do Governo de
lutar contra o paramilitarismo e apresentar resultados eficazes num lapso
de três meses; suspensão definitiva dos sobrevôos a qualquer altura na área
desmilitarizada; suspensão das ordens de captura dos membros do
Secretariado que se encontram nesta área; um pronunciamento público e
direto sobre a opinião do Governo acerca do qualificativo de organização
terrorista que os Estados Unidos têm-lhe dado às FARC-Exército do Povo e,
abordar na Mesa os temas de Crescimento Econômico e Geração de Emprego e
Reforma Agrária.

Durante os dias 4 e 5 de outubro trabalhamos de maneira conjunta para
buscar fórmulas que dinamizassem e concretizassem o processo de paz dando
origem ao Acordo de São Francisco da Sombra. Em momento algum durante estas
jornadas de trabalho as FARC nada propuseram em relação à prorrogação da
área desmilitarizada, no entendido de que esta decisão corresponde ao
Presidente da República.

Para minha surpresa, no dia 7 de outubro, na alocução
presidencial  anunciando a prorrogação desta área por três meses, se
estabelecem condicionamentos à mesma que atrapalham as garantias para
dialogar e violam os acordos que lhe deram origem.

A partir de essa data incrementam-se o bloqueio em nome do paramilitarismo
contra os habitantes da área, impedindo a entrada de abastecimentos,
combustível, peças para maquinaria e automotores e outras mercadorias; os
sobrevôos rasantes sobre os acampamentos, povoados, estradas e os centros
urbanos dos Municípios, como tem sido constatado por todo o país.

Afirmar que o Governo fez por convicção e não por exigência das
FARC-Exército do Povo mudanças econômicas, políticas, sociais e uma dura
luta contra os grupos paramilitares, não se corresponde com o que tem
sucedido nestes três anos de diálogos. A realidade mostra como cresce o
terrorismo estatal e agrava-se a crise socioeconômica e política.

Argumenta o senhor Presidente: "do lado do sistema democrático estamos
todos unidos  no propósito de discutir com as FARC-Exército do Povo os
temas que mais interessam aos colombianos..." Não duvido que alguns
monopólios econômicos, grande parte dos chefes dos partidos tradicionais, a
maioria dos candidatos presidenciais, altos comandos militares, alguns
Bispos  da Igreja Católica e os grandes meios de comunicação, estejam
unidos em defesa de seus privilégios, do Estado repressivo e do regime
oligárquico em contra da Nova Colômbia que reúne as maiorias do país que
lutam pela paz com emprego, saúde, moradia, educação, garantias políticas e
com soberania.

Se nesta ocasião a luta pela paz com justiça social e soberania vê-se
frustrada pelas imposições, será responsabilidade exclusiva do Governo e do
Estado que você lidera.

Atenciosamente

Manuel Marulanda Vélez.
Comandante Chefe das FARC-Exército do Povo.
Montanhas da Colômbia,
25 de Outubro de 2001.